Em uma trajetória de história e transformações, Caldas de Jorro completa 73 anos


Seja pela sua rica jornada de quase dois séculos de muita história, seja pela sua riqueza peculiar, com recursos naturais de uma privilegiada posição geográfica, Tucano é uma cidade de destaque na região e no estado. Um dos pilares da economia tucanense é a atividade turística, que tem avançado gradativamente desde o início dessa gestão. Notório e reconhecido atrativo para visitantes do estado e de fora, Caldas do Jorro é um importante distrito da cidade.

Distante a 263 km de Salvador, o distrito tucanense completa, neste sábado (4), 73 anos. Nele, há uma reserva hídrica, considerada por especialistas como inesgotável, onde os visitantes podem curtir um delicioso banho de água sulfurosa à incrível temperatura de 48º graus, na Praça Ana Oliveira. Há, inclusive, estudos científicos que comprovam as propriedades terapêuticas das águas termais de Caldas do Jorro.

Os estudos indicam as qualidades especiais da água no tratamento de doenças alérgicas, dermatoses reumáticas, doenças gastro-intestinais, dispepsias, gastrites, colites, prisão de ventre, doenças do fígado e dos fins, manifestações úricas, acne-furuculose e eczemas parasitosas da pele.

Ao redor da praça, há restaurantes, bares e comércio de artesanato. O bode assado é a estrela dos cardápios. A iguaria é servida com farofinha d’água e vinagrete. Tudo isso impulsionado pelos atrativos da chamada “praça do banho”.

Por força dessa atração natural durante todo o ano, principalmente no inverno, são muitos os frequentadores que chegam para desfrutar dos banhos nas bicas e cascatas e beber a água em torneiras existentes de forma apropriada para o abastecimento de garrafas e vasilhames.

As águas do Jorro resultam da combinação de dois lençóis freáticos que apresentam grande pressão. É apontada como a melhor fonte de água do Brasil e comparada com as melhores do mundo a exemplo da Vichy, existente na França, com a vantagem do maior grau de temperatura, uma vez que a francesa chega aos 36 graus, contra 48 graus das águas termais do Jorro.

Josette Tuvo

No final do ano de 1948, o Conselho Nacional de Petróleo determinou a perfuração do que deveria ser um poço petrolífero, na Fazenda Macaco. Mas o resultado surpreendeu aos engenheiros, que procediam a perfuração, e logo após surgia um jorro de água quente.

A assinatura da lei que efetivava a antiga Fazenda Macaco enquanto Estância Hidromineral de Caldas do Jorro, ocorreu em 4 de dezembro de 1964, pela Lei N° 2077.

A professora Josette Tuvo foi uma personagem marcante no processo de transformação para Caldas do Jorro ser elevada à Estância Mineral. Josette fez toda a articulação com a Deputada Estadual Ana Oliveira, esta que veio a dar nome à Praça Principal.

A parlamentar, muito amiga do casal Josette e Alfredo Tuvo, encantada pela cidade, perguntou-lhes sobre o que gostariam de receber de presente no dia do aniversário de casamento, celebrado em 5 de dezembro.

Em coro responderam, sem terem combinados, pois não esperavam um pedido deste: “A criação da Estância Hidromineral de Caldas do Jorro!”.

O fato é narrado pelo filho do casal, Alfredo Tuvo Neto, que ressalta ainda que o desejo de seus pais para a criação da Estância tinha como o objetivo abrir portas para recebimento de novos recursos.

“Contaram que haviam conversado muito sobre este desejo, antes da conversa com a deputada Ana Oliveira, para mim, minha querida Tia Nanú, pois poderia abrir as portas para novos caminhos, inclusive para divulgação e recursos. Minha mãe disse também que tia Nanú aceitou o desafio e foram dois meses correndo de um canto para o outro, às vezes sem tempo de almoçar, pois visitaram todos os 60 deputados, realçando a importância da criação da Estância Hidromineral de Caldas do Jorro”, contou.

“Gostavam tanto de Caldas do Jorro que chegaram ao ponto de doarem uma área, para criação da Administração da Estância, que na época era um açougue, sendo recentemente transferida para a Administração”, completou.

Alfredo Neto contou também, com muita emoção, que as datas 4 e 5 de dezembro são muito importantes a vida dele.

“Realmente um verdadeiro presente de aniversário, com a comemoração dupla, da cidade e do aniversário de casamento. Os dias 4 e 5 de dezembro são muito importantes para mim! A proximidade deles mexe comigo!”, emocionou-se.

“Eles vivem através de nossas lembranças. Ouço constantemente educadores, ex-alunos, profissionais liberais, comerciantes, frequentadores e turistas falarem muito bem sobre o trabalho realizado por eles. Portanto, faz-me exibir o meu sobrenome Tuvo com muito prazer e satisfação”, finalizou.

Cinema do Grande Hotel Santo Antônio

Em janeiro de 1960, a família Tuvo inaugurou o Grande Hotel Santo Antônio. Alfredo Tuvo Filho, ator e locutor, eleito como o melhor ator da Bahia, por votação popular, com sua brilhante atuação no filme “Redenção”, primeiro filme de longa metragem feito no estado, fundou o Cinema do Grande Hotel Santo Antônio, que marcou época.

O cinema era amplo, confortável e equipado com lentes e telas apropriadas para filmes em cinemascope, tecnologia nova na época. No período da Semana Santa, o sucesso era a exibição do filme “A Paixão de Cristo”.

“Era uma verdadeira romaria, com sessões às 10h, 16h, 18h e 20h, com lotação completa de quarta-Feira à domingo, com filas imensas para ser conseguidas vagas. Meu pai, usava como música âncora, cinco minutos antes de começar o filme e logo após o término do mesmo, a linda música “African Beat”, de Bert Kaempfert. Era ouvida a quilômetros da praça, em praticamente em toda a cidade. As pessoas até hoje se emocionam ao ouvi-la, rememorando uma época”, lembrou Alfredo Neto.

“O cinema exibiu ainda os lançamentos dos filmes “Candelabro Italiano”, em que foi lançado a música “Dio como te amo”, de Gigliola Cinquetti, “A Face Oculta”, com Marlon Brando, “E o Vento Levou”, “Tarzan, o Magnífico”, entre outros”, completou.

O psicólogo disse ainda que o hotel possuía um serviço informativo com autofalantes potentes, divulgando eventos da cidade, palestras e cursos.

“Eram ministrados sempre palestras na área de educação e saúde, com a vinda e estadia patrocinadas pelo Grande Hotel Santo Antônio. Na cidade eram promovidas corridas de atletismo, com desportistas vindos de diversas localidades, corrida de cavalos, corridas de jegue e diversos outros eventos culturais, como bandas de pífanos e bumba meu boi, disse.

Alfredo lembrou ainda do potente gerador que fornecia energia elétrica em toda a Praça Ana Oliveira.

“Era de domingo à sexta, do final da tarde até às 22 horas, e aos Sábados até mais tarde, às vezes até meia noite, se houvesse eventos. Foram totalmente custeados pelo Hotel, sem nenhuma ajuda de custo, sequer de um litro de óleo pela prefeitura, ou outrem”, finalizou. 

Desenvolvimento Econômico

O historiador André Carvalho conta que o turismo da região começou a despertar desde a década de 50, com a inauguração do Grande Hotel Caldas de Cipó, no município de Cipó, que fechou suas portas na década de 60.

“Já existiam alguns investimentos econômicos desde Cipó. Na década de 50, o Grande Hotel foi inaugurado pelo presidente da República Getúlio Vargas, com cassinos que despertavam o interesse em desenvolver o turismo na região. Com a queda turística em Cipó, o deslocamento dos investimentos ficou voltado para o Jorro, criando a Estância Hidromineral e o Parque das Águas”.

André detalha ainda a importância de Caldas do Jorro para o povoado de Tracupá, localizado às margens da BR 116, forte na cadeia produtiva do couro, que já foi conhecido como a “cidade das antenas parabólicas”. 

“A partir da década de 80, quando Jorro começa a despertar como grande potencial turístico, os fabricantes de couro modificaram a produção voltada exclusivamente para as indumentárias dos vaqueiros e iniciam a comercialização de bolsas, carteiras, produtos ligados ao público que visitava o Jorro”, pontuou.

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